Durante a alfabetização, as crianças passam por cinco níveis distintos, sendo eles o pré-silábico, o intermediário I, o silábico, o intermediário II ou silábico-alfabético e alfabético.
O nível 1, conhecido como pré-silábico é dividido em três fases: pictográfica, gráfica primitiva e pré-silábica.
A fase pictográfica é marcada pelo registro de garatujas, desenhos sem figuração e posteriormente desenhos com figuração.
Na fase gráfica primitiva a criança registra símbolos e pseudoletras, misturadas com letras e números, e ainda há um questionamento sobre os sinais escritos ao adulto.
Já na fase pré-silábica propriamente dita, a criança já consegue diferenciar letras de números, desenhos ou símbolos e reconhece o papel das letras na escrita, mas não sabe como isso ocorre. Além de apresentar as seguintes características: não consegue corresponder pensamento e palavra escrita, fonema e grafema; impressão de que a ordem das letras não é importante, de que só existe a possibilidade de escrever substantivos e de que leitura ou escrita só é possível se houver muitas letras, diferentes e variadas.
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O nível 2, conhecido como intermediário I, é marcado pelo conflito que a criança encontra ao se deparar com a sua própria escrita pré-silábica e a organização do sistema lingüístico convencional. Há uma ligação difusa entre pronúncia e escrita e certa estabilidade exterior das palavras, pois a criança já conhece alguns valores sonoros.
No nível 3, denominado silábico, há a aceitação de palavras constituídas de uma ou duas letras, mas ainda com hesitação. Há também a possibilidade de convivência com a hipótese de quantidade mínima de letras, utilizando uma letra para cada palavra ao escrever uma frase. Ainda não há definição das categorias linguísticas, mas a hipótese silábica com a fonetização da escrita possibilita maior correspondência som/letra.
O nível 4, chamado intermediário II ou silábico-alfabético, é marcado pelo conflito da distância entre a escrita da criança e a do adulto. Sendo assim, a criança é induzida a negar a lógica do nível silábico, já que o valor sonoro torna-se imperioso e a criança começa a acrescentar letras principalmente na primeira sílaba.
O último nível, conhecido como silábico, há a compreensão da lógica da base alfabética da escrita e conhecimento do valor sonoro convencional de grande parte ou todas as letras assim como de sua organização para formar sílabas e palavras. Além da distinção de letra, sílaba, palavra e frase, apesar de não dividir a frase gramaticalmente devido ao ritmo frasal — escrita fonética, não ortográfica.
Um dos grandes obstáculos para a alfabetização é considerá-la um instrumento exclusivo da escola. Esta postura descarta a consciência da criança sobre a importância desse recurso na sociedade, desestimulando-a através das tarefas desprovidas de significado e contextualização no cotidiano da mesma — a escola se torna um ambiente peculiar que ensina técnicas, teorias e conceitos alheios a vida.
Outras práticas comuns são os métodos que priorizam o uso de manuais, a adoção de programas de repetição, o exercício da memorização e a cópia de modelos, que expõem as crianças a uma realidade que não está conectada com a exploração ativa dos instrumentos disponíveis na comunidade, como por exemplo, revistas, jornais, propagandas, outdoors, desenhos animados, entre outros. Não havendo a consciência de que toda forma de leitura é importante e deve ser valorizada.
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Nestes métodos a criança aprende o alfabeto e suas combinações, os sons e a gramática, considerando este processo um fim em si mesmo. Raramente explica-se que a escrita é uma conquista histórica e que representa a língua e não a fala, o que gera inúmeros conflitos, tanto nos jovens e adultos, quanto principalmente nas crianças.
Devido aos sistemas mencionados acima, há pouca preocupação em incentivar na criança atitudes de curiosidade, interesse, criatividade e coragem para apropriar-se da escrita de forma livre e autônoma. Pois o processo de alfabetização necessita principalmente de tempo, paciência e maturidade. O que não necessariamente se relaciona com a perspectiva errônea do adulto sobre o sistema de escrita e sobre o que fácil e difícil efetivamente.
Portanto, assim como em todos os processos de aquisição de conhecimento ou de desenvolvimento em geral, é importante que a criança participe da construção do conhecimento de forma ativa, sendo o sujeito principal do processo de ensino-aprendizagem.
Por _Berdusco