terça-feira, 27 de março de 2012

Fases da alfabetização segundo Emília Ferreiro e algumas considerações sobre as dificuldades do aluno moderno

Durante a alfabetização, as crianças passam por cinco níveis distintos, sendo eles o pré-silábico, o intermediário I, o silábico, o intermediário II ou silábico-alfabético e alfabético.
O nível 1, conhecido como pré-silábico é dividido em três fases: pictográfica, gráfica primitiva e pré-silábica.
A fase pictográfica é marcada pelo registro de garatujas, desenhos sem figuração e posteriormente desenhos com figuração.
Na fase gráfica primitiva a criança registra símbolos e pseudoletras, misturadas com letras e números, e ainda há um questionamento sobre os sinais escritos ao adulto.
Já na fase pré-silábica propriamente dita, a criança já consegue diferenciar letras de números, desenhos ou símbolos e reconhece o papel das letras na escrita, mas não sabe como isso ocorre. Além de apresentar as seguintes características: não consegue corresponder pensamento e palavra escrita, fonema e grafema; impressão de que a ordem das letras não é importante, de que só existe a possibilidade de escrever substantivos e de que leitura ou escrita só é possível se houver muitas letras, diferentes e variadas.

O nível 2, conhecido como intermediário I, é marcado pelo conflito que a criança encontra ao se deparar com a sua própria escrita pré-silábica e a organização do sistema lingüístico convencional. Há uma ligação difusa entre pronúncia e escrita e certa estabilidade exterior das palavras, pois a criança já conhece alguns valores sonoros.
No nível 3, denominado silábico, há a aceitação de palavras constituídas de uma ou duas letras, mas ainda com hesitação. Há também a possibilidade de convivência com a hipótese de quantidade mínima de letras, utilizando uma letra para cada palavra ao escrever uma frase. Ainda não há definição das categorias linguísticas, mas a hipótese silábica com a fonetização da escrita possibilita maior correspondência som/letra.
O nível 4, chamado intermediário II ou silábico-alfabético,  é marcado pelo conflito da distância entre a escrita da criança e a do adulto. Sendo assim, a criança é induzida a negar a lógica do nível silábico, já que o valor sonoro torna-se imperioso e a criança começa a acrescentar letras principalmente na primeira sílaba.
O último nível, conhecido como silábico, há a compreensão da lógica da base alfabética da escrita e conhecimento do valor sonoro convencional de grande parte ou todas as letras assim como de sua organização para formar sílabas e palavras. Além da distinção de letra, sílaba, palavra e frase, apesar de não dividir a frase gramaticalmente devido ao ritmo frasal — escrita fonética, não ortográfica.
Um dos grandes obstáculos para a alfabetização é considerá-la um instrumento exclusivo da escola. Esta postura descarta a consciência da criança sobre a importância desse recurso na sociedade, desestimulando-a através das tarefas desprovidas de significado e contextualização no cotidiano da mesma — a escola se torna um ambiente peculiar que ensina técnicas, teorias e conceitos alheios a vida.
Outras práticas comuns são os métodos que priorizam o uso de manuais, a adoção de programas de repetição, o exercício da memorização e a cópia de modelos, que expõem as crianças a uma realidade que não está conectada com a exploração ativa dos instrumentos disponíveis na comunidade, como por exemplo, revistas, jornais, propagandas, outdoors, desenhos animados, entre outros. Não havendo a consciência de que toda forma de leitura é importante e deve ser valorizada.

Nestes métodos a criança aprende o alfabeto e suas combinações, os sons e a gramática, considerando este processo um fim em si mesmo. Raramente explica-se que a escrita é uma conquista histórica e que representa a língua e não a fala, o que gera inúmeros conflitos, tanto nos jovens e adultos, quanto principalmente nas crianças.
Devido aos sistemas mencionados acima, há pouca preocupação em incentivar na criança atitudes de curiosidade, interesse, criatividade e coragem para apropriar-se da escrita de forma livre e autônoma. Pois o processo de alfabetização necessita principalmente de tempo, paciência e maturidade. O que não necessariamente se relaciona com a perspectiva errônea do adulto sobre o sistema de escrita e sobre o que fácil e difícil efetivamente.
Portanto, assim como em todos os processos de aquisição de conhecimento ou de desenvolvimento em geral, é importante que a criança participe da construção do conhecimento de forma ativa, sendo o sujeito principal do processo de ensino-aprendizagem.

Por _Berdusco

11 comentários:

  1. Muito bom o seu conteúdo...Muitooo claro...Muito obrigada...bjo

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    1. Obrigada! Espero que tenha ajudado a compreender um pouco sobre essas fases de aprendizagem da escrita. Na verdade, eu tinha muita dificuldade em separar cada acontecimento dentro da nomenclatura atribuída às etapas. Mas na prática, você observa tudo isso acontecendo de maneira dinâmica.

      Beijos e volte sempre!

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  2. gostei bastante do seu comentario sobre as fases, acho q se acrescentar alguns exemplos escrito pelas crianças em cada uma delas facilitará nossa compreenção.

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    1. Obrigada pela dica! ;)

      Numa próxima oportunidade vou postar um texto só com exemplos. Vou precisar da ajuda de professores experientes, porque cada caso acontece de uma maneira. E só com muito tempo de docência dá pra tirar essas fases de letra! [risos]
      Agora estou preparando algumas postagens sobre gestão, mas prometo que voltarei em breve para a alfabetização.

      Beijos e volte sempre!

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  3. Perfeito, me tirou todas as dúvidas, muito obrigada.

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  4. Que legal, Lúcia!
    Fico muito feliz em poder ajudar.
    Obrigada.

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  5. Nossa, muito obrigada Dani,pois ainda meio que confundo,mas tenho certeza que na prática vou consegui separar detalhadamente. =D

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  6. Muito bom adorei. Tenho um filho com dificuldades de aprendizagem que tem caminhado lentamente, mas a explicação me ajudou a compreender onde estaria o erro. No método escolhido. Gratidão

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