sábado, 17 de setembro de 2011

Família dentro da escola


Devido às mudanças sociais, econômicas e culturais vivenciadas pela sociedade desde o século passado, foram construídas novas organizações familiares em contrapartida à família nuclear, composta por pai, mãe e filhos.
Com a ascensão sócio-econômica e a liberdade sexual da mulher, houve uma crescente incidência de divórcios e a presença majoritária de famílias compostas por mães solteiras ou até mesmo reestruturadas. Assim como as de pais solteiros.
Também com as contribuições da legislação, aumenta o número de adoções. E atualmente, com a democratização das expressões culturais e sociais, a adoção de crianças por homossexuais.
O que temos são as famílias tentaculares. O que, por muitas vezes, justifica o discurso dos jovens que se revoltam, os pais que já não sabem como agir e os professores que não conseguem intervir de forma efetiva.
A culpa por todos os problemas da sociedade é depositada sobre estas famílias, que são, na maioria dos casos, denominadas desestruturadas.
Portanto, precisamos partir de um ponto crucial. Não existem famílias desestruturadas e sim pessoas que não sabem como educar os filhos. Isto independe da composição desta família. Contudo, não é sensato culpar a escola por não conseguir ensinar. Ou delegando à família a função de educar, e vice-versa.
Na relação família-escola, o professor deve atuar de forma que crie uma parceria com os pais.
Tratar a família como se o professor estivesse fazendo um favor pelo aluno não é a solução. Assim como considerar as reuniões e os eventos festivos artificialmente não fazem com que se crie um vínculo de confiança.
É preciso haver uma troca de saberes entre os professores e a família. Já que cada qual pode contribuir para que se diagnostiquem os problemas e busque as melhores soluções.
Saber ouvir o que os pais têm a dizer é a melhor forma de demonstrar que verdadeiramente o que eles dizem tem importância. E que com cuidado e sempre mantendo esta relação todos alcançarão seus objetivos conjuntamente. Dessa forma os pais também aprendem a ouvir o que a escola tem a dizer.
Vale lembrar que as reuniões são momentos ótimos para aproximar a família da escola. Portanto, deve-se preparar o ambiente para que seja o mais agradável possível para que não se torne um emaranhado de cobranças e nem negligente demais.
Enfim, é preciso que o professor não perca as oportunidades que encontra de aproximar-se da família. Pois estes são os momentos adequados de orientar, aconselhar e despertar nos pais o sentimento de autoridade, carinho e respeito pelos seus filhos. Para que, apesar da relação democrática entre pais e filhos, cada qual seja consciente do seu papel. Visto que, esta atitude inclui a criação de projetos e ações que possibilitem a inserção da família nas atividades escolares.



Antes de propor qualquer tipo de projeto, data comemorativa, palestras temáticas, entre outros é preciso que a escola estabeleça um vínculo com a família, senão é muito provável que os pais queiram apenas comparecer aos encontros obrigatórios.
Para conhecer o contexto familiar de cada aluno, não basta fazer cursos, ler livros, estudar artigos. Claro que todas estas iniciativas são válidas, mas na prática "cada caso é um caso".
Trago as experiências positivas que tive em organizações não-governamentais e que poderiam ser transferidas para a escola.
Dar espaço aos responsáveis para expressar suas dificuldades, medos, anseios é o primeiro passo para criar a confiança necessária para que os pais sintam vontade de participar ativamente das atividades da escola. Isto não significa que a escola deve resolver os problemas da família para que o aluno consiga aprender. Este não é o caminho. A escola precisa, na verdade, saber ouvir os pais.
Criando este laço de confiança, podem-se preparar as estratégias.
Oferecer aos pais um calendário de atividades pré-programadas facilita com que os mesmos reservem um tempo para participar com mais tranquilidade.
Lembrando que em todos os encontros, deve-se criar um ambiente agradável, produtivo em que tanto a escola quanto a família possam dar sua contribuição. Pois não podemos esquecer que são os pais que conhecem e convivem diariamente com os alunos. E são os professores que, conscientes do contexto familiar podem intervir de forma mais efetiva.
Este processo de recíproca confiança começa na primeira reunião do ano, que deve ser agradável e esclarecedora. Deixando claro que ambos farão um contrato de parceria durante um ano inteiro de trabalho.
As reuniões individuais e as extraordinárias, não menos importantes, devem permitir com que todos demonstrem suas opiniões e as melhores alternativas de intervenção. Devemos acabar com a concepção única de obrigatoriedade do ensino e a rotulação de problemas de aprendizagem ou de comportamento como enfadonhos para a escola. Estes são processos completamente naturais, e é preciso que todos se recordem de que os humanos falham e o que determina o sucesso de cada um é a forma como lidamos com essas falhas. Acusar a família, envergonhado-a não é a melhor saída. E nem colocar a culpa na falta de competência da escola. O importante é cooperar sem inverter os papéis.
As festas e as campanhas são ótimas oportunidades para que os membros da comunidade se conheçam e se reconheçam. Possibilitando que tenham vontade de retornar à escola, compartilhar experiências com seus semelhantes e atuar de forma integrada.
Os cursos e palestras possibilitam que a escola possa orientar a família de forma mais direta e partindo do interesse da comunidade. É necessário adequar os temas de acordo com o contexto atual, assim como a data na qual serão marcados os eventos.
Quando toco nas lembranças dos tempos de escola, recordo dos "Encontros da Associação de Pais e Mestres" e dos "Mutirões de Limpeza". Sei que nem sempre a APM conseguia resolver os problemas da escola e os cansativos dias de limpeza e pintura das dependências da instituição não duravam muitos anos. Mas o momento em que a escola se unia com a família era único, era especial. Todos se sentiam responsáveis pela escola e importantes por poder fazer algo por ela.


Por outro lado, acredito também que a mudança veio de fora para dentro. A sociedade sofreu transformações e a família, para acompanhar esse ritmo, teve de pagar seu preço. E como citado acima, as influências da mídia são constantes.
As novas organizações familiares encontram grande dificuldade em lidar com estas tendências. O que, muitas vezes, gera o sentimento de frustração e excessivas comparações com as famílias de gerações anteriores.
O consumismo exacerbado da sociedade, a sexualidade omitida ou escancarada, a imposição de expectativas desesperadas de sucesso nos filhos, a inversão dos papéis, entre outros são fatores que se apresentam.
O papel da escola é se aproximar da família.
Os frutos colhidos desta parceria serão a ferramenta para que os futuros adultos das próximas gerações possam intervir na sociedade para que se possa resolver esta crise ética contemporânea.


Por _Berdusco

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